domingo, 5 de setembro de 2010

Mais causos de Canoinhas...




























Enchente de 1983

Em 1983, ocorreu um dos maiores desastres climáticos da cidade de Canoinhas. Ele me foi narrado por uma simpática senhora.

“Em 83, houve uma enchente enorme, eram muitas pessoas desabrigadas. Estabelecimentos, como escolas, cederam espaço para as pessoas se abrigarem. Nestes locais, voluntários se uniam para ajudar a cozinhar. No pavilhão da igreja, estavam roupas e cobertores, os quais eu ajudei a separar em “sacolões” para doar às pessoas carentes que perderam tudo neste desastre.
Nossa casa não foi atingida por ficar no alto, mas como, na época, meu marido trabalhava como fiscal de obras, ele também ajudou as pessoas.
Para ajudar pessoas, nós íamos ao supermercado e comprávamos latas de leite em pó, que não estraga tão fácil. Também oferecemos espaço em nossa casa para as famílias se abrigarem, mas não precisou ninguém se abrigar aqui.
A enchente formou várias áreas de isolamento, por esse motivo a locomoção era só aérea, com aviões e helicópteros. Assim, o movimento de aeronaves era intenso. As chuvas duraram o período aproximado de um mês, começando dia 3 de Junho. Quando a chuva parou, ainda demorou cerca de três meses para as águas baixarem.”

Resumindo, 83 foi um desastre, desabrigando cerca de 500 pessoas, mas uma comunidade se uniu para ajudar pessoas desabrigadas. No final, Canoinhas deu a volta por cima.

Nome: Dauria Ferreira Lessack
Local de nascimento: Canoinhas
Profissão: Dona de casa
Idade: 82 anos

Alunos: Igor Leonardo L. de Paula e Silva e Gabriel Hack de Souza

A Febre Espanhola


Nasci e cresci em Canoinhas, tenho 65 anos.
O acontecimento que marcou muito minha vida ocorreu na minha cidade natal. A febre espanhola apavorava toda cidade. Sobraram poucas pessoas. Essa febre era tão grave que morriam famílias inteiras, havia muitos mortos e, para fazer o sepultamento, passava um carretão, puxado por seis ou oito cavalos. O carretão era do Sr. Frits Kohler. Os mortos eram colocados dentro da carroça e levados ao cemitério, na Colina Santa Cruz, onde hoje fica o colégio Cesc. Eram jogados em valas muito grandes.
A febre era igual uma gripe, mas quando as pessoas deitavam para dormir, pensando em sonhar com coisas boas, amanheciam mortas.


Entrevistada; Joanita Gevieski Perciak
Idade; 65

Aluno: Wagner Nataniel Safanelli



Canoinhas, uma cidade ideal

Meu nome é Terezinha Woitechen, tenho 52 anos de idade. Quando eu vim morar pra Canoinhas, na rua Coronel Albuquerque havia as casas Pernambucanas.
As duas ruas asfaltadas eram a Getúlio Vargas e a Paula Pereira, e as que foram as faltadas depois eram a Barão do Rio Branco, Caetano Costa, Frei Menandro Kamps, Felipe Shmidt e Vidal Ramos.
Mudanças ocorreram muitas, por exemplo: as lojas Trevisane mudaram quatro vezes, as lojas Mayer vendiam só roupas, agora vendem materiais de construção.
Novo mundo e a Casa da Carne foram os primeiros mercados em Canoinhas.
Havia um cinema do lado da Igreja Matriz Cristo Rei, saímos da missa as 19horas, e íamos para o cinema. Ah, tudo eram tão bom!
Profissão :Professora
Entrevistadora:Grasielle Martins
Serie:6º1

MEMÓRIAS DE DONA MARIA

Meu nome é Maria dos Santos, tenho 74 anos. Não trabalho fora, sou aposentada, só ajudo minha filha nos serviços de casa. Agora vou contar histórias da minha época:
Quando eu era criança, na cidade de Canoinhas quase não havia mercados e nem bancos, mas agora tudo mudou.
Quando eu tinha 15 anos, eu só chegava da roça e ia preparar a janta pra mim e meu marido.
Agora tudo está diferente. Quando minhas filhas moravam comigo, eu tinha que deixá-las em casa ou às vezes até tinha que levá-las pra roça comigo.
Quando eu e minhas filhas queríamos vir para Canoinhas, nós tínhamos que vir de carroça porque naquele tempo nós não tínhamos condições de comprar um carro ou uma charrete, ou às vezes vínhamos até a pé.Eu tinha que comprar tecidos para fazer roupas para meus filhos e filhas.

Aluno: Diogo G. Bauer


Bons Tempos de Canoinhas

Eu sou uma senhora que vivo em Canoinhas com meu marido, tenho 63 anos e cinco filhas.
Quando eu era criança, ia com meus pais e meus irmãos de carroça para a cidade fazer compras para a semana inteira, no armazém dos Judeus.
No de 1950, o prefeito de Canoinhas era Benedito Teresio de Carvalho. Nas ruas, o movimento era pequeno, quase não se viam carros, somente alguns caminhões. Como só os ricos podiam ter um carro, o que se via nas ruas pacatas e pequenas da cidade eram charretes, carroças e até algumas carruagens, pessoas a cavalo e também a pé.
A dificuldade de locomoção das pessoas era grande, mas já existia o trem.
Toda a erva-mate da região era vendida nós armazéns de Abrão Seleme, Ademir Pereira e Zugmam.
Em frente à igreja matriz Cristo Rei, havia um grande e sofisticado restaurante chamado Guarani, seus proprietários eram alemães.
Onde hoje é a Prefeitura Municipal de Canoinhas, passava a linha férrea que transportava pessoas, erva-mate e madeira para lugares mais distantes, isso por volta de 1960.
A maioria das compras eram feitas a base de troca. Meus pais levavam, de carroça, feijão, arroz, cebola, verduras, alhos, enfim, tudo que produziam na lavoura, para trocar por outras mercadorias.

Aluno; Matheus José Machado


Ruprechet Loeffler

Alemão de nascimento, Ruprechet Loeffer chegou em Canoinhas em 1924, quanto tinha sete anos.
Aos 90 anos, trabalha diariamente, sem ligar para os problemas, bebendo dois litros de cerveja por dia. Para ele, este é o segredo de sua saúde. Ah, sem esquecer que dormir antes da meia-noite e acordar às 6 horas faz muito bem, além de comer cebola e alho todo dia, o que também é ótimo. “Apenas minha coluna que não ajuda, mas no mais estou bem”, conta Loeffler, em risos.
Otto, pai de Loeffler, vendeu uma cervejaria que tinha na terra da banana, para comprar outra em Canoinhas. A cervejaria que vocês estão acostumados a ver na rua 3 de maio, está lá há 101 anos.
Loeffler lembra que Canoinhas, em 1924, estava cheia de imigrantes, que vinham de diversos cantos do mundo. Foram eles os responsáveis pelo surgimento da indústria canoinhense, com destaque incomparável para a indústria do mate e da madeira.
Loeffler recorda o grande colonizador do distrito de Marcilio Dias, Bernardo Olsen “amigo do meu pai, um homem muito inteligente e trabalhador”
A famosa cerveja “Nó de Pinho”, fabricada desde 1930, sustentou o sucesso da Cervejaria Loeffler, além, é claro, do famoso chope. Em seis semanas, de forma absolutamente artesanal, Loeffler junta 200 quilos de cevada, quatro quilo de lúpulo, álcool e outros ingredientes, menos conservantes, para produzir 1,5 mil garrafas de cerveja por mês.
Tanto esforço não compensa financeiramente, mas ajuda a manter uma das poucas tradições germânicas em Canoinhas - tomar cerveja numa cervejaria tipicamente alemã
Entrevistado: Ruprechet Loeffler



























adware spyware removal























mp3 free download

Causos da Capital do Mate






Nós, do Cabral, também participamos da Olimpíada da Língua Portuguesa 2010. Conheça agora os dois textos de Memórias finalistas dessa edição, das alunas Letycia e Natália (6.ª 1). Em seguida, leia também os outros textos produzidos pelos alunos das 6.ªs séries, todos produzidos a partir de entrevistas com antigos moradores de nossa cidade. Interessantes registros pessoais de nossa história!


Memórias com cheirinho de mate

Nasci e cresci aqui mesmo em Canoinhas, a cidade do mate, e tenho visto o quanto a minha querida cidade mudou! Moro no centro há 20 anos, que têm sido a melhor época da minha vida.
Mas nem sempre tudo foi fácil...
O inverno era rigoroso até demais lá pelas 'bandas' de Barra Mansa – o distrito em que morei por muitos anos em minha infância. As árvores de erva-mate ficavam branquinhas, branquinhas quando geava. Toda vez que vou para essa localidade, no interior de Canoinhas, parece que sinto o frio invernal percorrer minha espinha.
Comecei a ajudar meu pai com oito anos de idade, plantando cereais, já que o dinheiro que recebíamos da venda da produção de laranjas e de mimosas não estava dando conta de sustentar uma família com quatorze membros. E, por causa do meu pesado trabalho, chorava baixinho, escondido do pai. Afinal, diziam que homem não podia chorar.
À tarde, ia para a escola, onde quem dava aulas eram professoras estrangeiras, que nem sabiam falar direito o português! Lembro-me de meus amigos rirem escondido até não poderem aguentar mais, por causa do sotaque engraçadíssimo delas. Mas, na sala de aula, quando ouvíamos uma delas tentando explicar alguma coisa em português, segurávamos o riso, já que tudo que fazíamos de errado dava direito a uma palmada – do que eu sentia medo, pois a palmatória castigava nossas mãozinhas trêmulas.
Os passatempos que eu e meus onze irmãos mais gostávamos eram jogar futebol, caçar pobres passarinhos com estilingue, nadar no rio e pescar. Quando nadávamos, podíamos ver os peixinhos se mexendo de tão limpinha que a água era. Diferente de hoje, quando as águas estão quase pretas e sem vida. E havia também um divertimento que me fascinava inteiramente: pegar as folhas do mate e amassá-las com o pilão, até que se tornassem um erva fina. Na verdade, o que me encantava era acompanhar o processo de preparação do mate e depois conferir o resultado: o cheiro, a textura e o sabor...
Domingo era dia de almoçar com o 'opa' e com a 'oma'. Para isso, tínhamos que pegar nossa carroça e preparar os animais. O caminho demorava um pouquinho e, quando nós chegávamos, pedíamos a preciosa benção dos nossos avós, coisa que dificilmente é feita pelas crianças de hoje. Tínhamos muito respeito e admiração por eles.
Já na minha adolescência, passei a ser dono de comércio. Para que meu ganha-pão me sustentasse, buscava produtos em Marcílio Dias e voltava a Barra Mansa. Em uma dessas viagens, comprei meu primeiro carro. Lógico que ele não estava completo, faltava uma coisinha aqui, outra 'acolá'... Mas o que eu mais queria era um rádio para colocar na minha velha e conservada picape. Apesar dos conselhos que meus amigos davam, de que não deveria comprar um rádio, e sim encher meu estabelecimento de mercadorias, decidi seguir meu coração e comprar o rádio. Ah, que alegria senti ao colocar o rádio no 'carrango'! Nesse caso, o valor sentimental valia mais que o real.
Quando tinha trinta anos de idade, construí uma ervateira, da qual eu me orgulho muito! Afinal, a 'bodega' e a lavoura não estavam dando muito lucro. A ervateira acabou contribuindo para o título que pertenceu a Canoinhas por longos anos: 'Capital Mundial da Erva-mate'. A minha modesta e humilde empresa continua funcionando, e neste ano completará trinta anos de funcionamento. Nunca pensei que chegaria a tanto!
O tempo passou voando. Casei, tive filhos e netos. E, agora, meu passatempo preferido é relembrar o passado em que vivi tantas histórias temperadas pelo mate.


O nome do entrevistado é Mário Francisco Dranka, ele tem 61 anos, trabalha como autônomo e mora na cidade de Canoinhas.


Aluna: Letycia Mara Lucas Série: 6ª 1 E. E. B. João José de Souza Cabral




Memórias de um alfaiate

Eu me chamo Vitório Maievski, sou alfaiate conhecido na região, tenho setenta anos e os melhores anos de minha vida foram vividos aqui em Canoinhas.
Na minha infância, eu e meus amigos brincávamos muito com uma espécie de carrinho feito com um carretel de fio e uma ripa de madeira cortada, nada comparado com os brinquedos industrializados de hoje. Eu também andava muito de bicicleta, na única rua calçada que existia em Canoinhas, a Felipe Schmidt. Um dos professores favoritos da minha infância, seu Antônio Costa, era generoso, inteligente e também o único na escola que não dava palmada de palmatória em nossas mãos pequenas e frágeis. Tempos depois, chegou a ser prefeito da cidade.
Naquele tempo, eu e meu irmão costumávamos andar pelo mato. Certo dia, ficamos perdidos e tivemos que dormir lá mesmo. No início me apavorei, mas depois vi que foi uma experiência boa, porque até dormimos, ficamos olhando as estrelas e sentindo aquele delicioso cheiro de natureza.
É claro, tudo isso aconteceu na infância, porque depois cresci, veio a adolescência, e com ela as espinhas e as responsabilidades. Logo em seguida, me apaixonei e me casei.
No dia do casamento, estava chovendo tanto, mas tanto, que minha linda noiva não conseguia sair do carro! Então meu pai teve que sair da igreja e ir buscá-la com um guarda-chuva. Para piorar, quando chegamos em casa, onde seria a festa, estava tudo destruído. Havíamos preparado as mesas e enfeites na varanda, então tivemos que arrumar tudo de volta dentro da nossa simples casa de madeira, com um telhado todo feito de tabuinhas, nada comparado com as telhas de hoje. Mas, mesmo nossa casa sendo humilde, nós conseguimos transformá-la em um lar.
Atrás do Cabral , escola atual, ficava a “Alfaiataria dos Portugueses”. Eu ia lá e ficava observando o dono e os funcionários trabalharem. Isso me inspirou a ter meu próprio negócio, e hoje sou dono da “Alfaiataria Gaúcha”, uma loja que faz parte da história de nossa cidade. Ela significa tanto para mim que, mesmo hoje, estando aposentado, eu ainda volto `a minha velha máquina de costura, trabalho um pouco e fico me lembrando da emoção que senti no dia em que inaugurei a loja.
Lembro-me também que antigamente não existiam muitos carros, apenas carroças e três motos na cidade inteira. Uma era minha e as outras duas de amigos meus, nós éramos “os caras”. Eram motos motos japonesas, vendidas no centro de Canoinhas. No centro, também havia um “bodegão” - mercado que vendia de tudo, desde alimentos até roupas -, se nós quiséssemos um quilo de banha de porco, era só pegarmos uma caneca, enchê-la e acertar com o “bodegueiro”.
Canoinhas é uma cidade pequena,mesmo assim, tive grandes emoções e vivi enormes aventuras aqui.